quarta-feira, 29 de agosto de 2007


Riscava o papel de formava contornada e delicada, sentindo o peso do grafite sobre a tez branca e cheia de linhas. Lembrou das próprias linhas da vida, tão tortas e mal escritas que formavam um livro tão doído e tão doido. Sem o menor espírito Aquarela - perdoa, toquinho - deixava cair não um só pingo, mas numerosos e imensos e coloridos. E deixou-os cair sobre o seu corpo, e foi se pintando e foi-se embora numa viagem planetária pro imenso azul interno. Varreu algumas nuvens. Se sentiu mais leve, mas também...mais vazia.

As nuvens preenchem espaço. Apenas fisicamente.

É hora de deixar chover...!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A desconhe-cida e o sui-cida.


Por quê? De todas as inúteis perguntas que já lhe fiz, das quais muitas vezes teu cansaço me foi resposta, apenas me devolva esta. Por quê, minha amada? Em teu nome soprei tantas nuvens e sobre teu nome derramei tanta água. Me levou o sorriso, o assunto, o violão - e bem rias de tua semelhança Buarqueana em minhas tragédias. Aliás, rir era tua pergunta, tua noite mal dormida, tuas pílulas e teu sexo - e eu que antes amava-lhe os dentes à mostra, pergunto se com eles ainda me dilaceras. Estava farto, minha amada. Sombrancelhas caídas e lábios trêmulos pelo que não pronunciei no dia de tua partida. E hoje sou isso. Um bilhete escrito no espelho com aquele seu batom vermelho que eu odiava, com a tua letra que me rasgava a cada sílaba lida, e relida, e lida, e relida, e eu ali, de alma ensagüentada, minha amada. Ainda relembro da última penumbra, daquela noite em que te devorava e nada dizias, talvez por saber que seria aquela a última e que ali eu apodreceria. E tu dirias todas aquelas palavras doces en français pra me adormecer e acordar com o chá sobre a mesa - mon petit, mon petit -. Amargo e velho.

(sinal abre)
Um dia hei de conhecê-la e aí sim, meu bem, os porquês.
Táxi!


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foto de mario souza