quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Feedback to the back

Ainda ontem ouvi numa reportagem um empresário falando que a economia da rede vai ser modificada pela existência do feedback positivo. Feedback, feedback. O termo extrangeiro ficou engrenando na minha cabeça o resto da tarde, e me dei conta de como é largamente utilizado na nossa vida. Vou estudar pra ter um feedback depois da prova. Apresento o projeto e espero dos vossos colegas um feedback. Vou elaborar um novo slogan do produto pra conseguir um feedback do consumidor. A banga adquiriu tamanha importância que até polaridade ganhou: feedback positivo e negativo. As pessoas querem o tal do feedback e essa é uma carência que não se preenche. Feedback é ilusão. Ilusão de preencher algo que não pode ser preenchido, e eu que não quero me assustar com os triângulos. Aliás, individualismo é como triângulo, porque sempre fica alguém de fora. Sempre.

Pessoas que optam por trair, quando se há uma escolha (e quase sempre há) , muitas vezes é porque precisam de um feedback novo, querem um olhar novo. É neste sentido que a traição não se torna, de fato, uma traição. Mas uma busca pelo ego perdido, porque amor não o alimenta - tenta amadurecê-lo. Mas ego que é ego prefere se manter verde a perder a platéia batendo palmas; nada mais do que uma roda-viva infeliz e medíocre. O amor não é uma ciência exata e nem o sexo. Trata-se de um olhar de exceção, que é o olhar de um artista. Sexo é maravilhoso, mas é rápido demais. Sexo também é ridículo em função da gula instintiva e sobre sua discussão no matrimônio. Sexo aborrece muita gente, fora as pessoas que estão fazendo naquele momento.

Aí percebi que, de fato, o pior feedback é o das relações amorosas. Volto à ilusão. Centenas de mulheres esperam, diariamente, pelo desgraçado termo se concretizar em frente às suas retinas. Mulher é assim. E você, homem, não sabe nada porque é freudiano demais, e Freud não entendia picas de mulher. E tem também essa coisa da "questão", da "grande questão", essa coisa de filósofo alemão, que é para deixar claro que eles, homens, estão preocupados em saber qual o problema e resolver logo. Enquanto nós, mulheres, somos umas malucas, que embolam os pensamentos e confundem tudo. Claro que há um pouco de verdade nisso, talvez mais até que um pouco, mas essa não é a questão. A questão é que eles usam a nossa instabilidade natural para nos diminuir, mas é essa instabilidade que faz essa merda de mundo andar pra frente. Se não fossem as malucas das mulheres, a humanidade estaria reduzida a um bando de trogloditas preguiçoso discutindo futebol o dia inteiro. Tá bem, tá bem. Grande parte do dia.

Eu quero mais é esquecer esse retorno, essa maldita retro-alimentação, e sua esculhambação, difamação. Muitão ão pra uma frase só, assim como querer retorno sempre é muita utopia pra um pensamento só. E viva a rede na praia...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007


Riscava o papel de formava contornada e delicada, sentindo o peso do grafite sobre a tez branca e cheia de linhas. Lembrou das próprias linhas da vida, tão tortas e mal escritas que formavam um livro tão doído e tão doido. Sem o menor espírito Aquarela - perdoa, toquinho - deixava cair não um só pingo, mas numerosos e imensos e coloridos. E deixou-os cair sobre o seu corpo, e foi se pintando e foi-se embora numa viagem planetária pro imenso azul interno. Varreu algumas nuvens. Se sentiu mais leve, mas também...mais vazia.

As nuvens preenchem espaço. Apenas fisicamente.

É hora de deixar chover...!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A desconhe-cida e o sui-cida.


Por quê? De todas as inúteis perguntas que já lhe fiz, das quais muitas vezes teu cansaço me foi resposta, apenas me devolva esta. Por quê, minha amada? Em teu nome soprei tantas nuvens e sobre teu nome derramei tanta água. Me levou o sorriso, o assunto, o violão - e bem rias de tua semelhança Buarqueana em minhas tragédias. Aliás, rir era tua pergunta, tua noite mal dormida, tuas pílulas e teu sexo - e eu que antes amava-lhe os dentes à mostra, pergunto se com eles ainda me dilaceras. Estava farto, minha amada. Sombrancelhas caídas e lábios trêmulos pelo que não pronunciei no dia de tua partida. E hoje sou isso. Um bilhete escrito no espelho com aquele seu batom vermelho que eu odiava, com a tua letra que me rasgava a cada sílaba lida, e relida, e lida, e relida, e eu ali, de alma ensagüentada, minha amada. Ainda relembro da última penumbra, daquela noite em que te devorava e nada dizias, talvez por saber que seria aquela a última e que ali eu apodreceria. E tu dirias todas aquelas palavras doces en français pra me adormecer e acordar com o chá sobre a mesa - mon petit, mon petit -. Amargo e velho.

(sinal abre)
Um dia hei de conhecê-la e aí sim, meu bem, os porquês.
Táxi!


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foto de mario souza

terça-feira, 31 de julho de 2007

A dificuldade social de ser quem se é

Folheava sua revista de forma lenta, sentindo cada ponta de papel roçar nos dedos. Era verdade que poderia estar lendo-a de cabeça para baixo e que não, não iria dar-se conta. Não hoje. O foco de sua pupila alcançava outra dimensão - mais precisamente a mesa ao lado, onde em sua cadeira repousava o dorso relaxado de um homem grisalho e de rosto quadrado. Ele mexia o líquido da xícara balançando-a no ar, em movimentos circulares e de freqüência constante, enquanto escrevia compenetradamente em um bloco de papel. Aquele ar de extrema competência intelectual deixava-a tonta. A forma como cruzava suas pernas, o joelho pousado sobre o outro, instigava-lhe ainda mais e ela só pensava em levantar e caminhar até ele. Um descuido viria, algo como "desculpe pisar no teu pé, que distração a minha!" e ela então poderia sentar-se e conversar sobre o frio dos últimos dias. Não, pensou. Esse já é desagradável até no elevador. Quem sabe então se passasse com a saia arriada até meia perna e mostrasse a cinta liga abraçada à coxa? Não, da última vez isso a teria feito tropeçar em meio ao movimento calculado de subir a saia e feito-lhe mostrar não só as pernas - um fiasco. O olhar compenetrado com que fitava o ambiente e retornava ao seu papel demonstrava uma sutileza e uma finesse que me tremia os lábios. Quem sabe conversar com o garçon mais próximo sobre o último filme do Godard? Criticar a cultura de massa? Arriscar uma ligação inventada e soltar um "ah, meu bem, obrigada pelos elogios, mas estou tão ocupada...!" ou lançar mão de um pedido de conselhos caindo aos prantos devido à fuga súbita do marido com a sobrinha, grávida do próprio irmão - e que venham as memórias de Nelson Rodrigues.

E a revista acabando. Culpou a própria falta de uma leitura mais requintada e de programas sociais menos focados em fazer as unhas ou assistir a novela das oito. À beira da desistência, resolve abandonar a xícara de chá e pede uma cerveja em alto e bom som, "e se tiver uma batatinha frita, manda ver", terminando a frase. Percebe aquela figura elegante, grisalha e com olhos indicativos de sua bagagem cultural vasta levantar de sua mesa e caminhar até a dela. Garganta seca, tentativa de uma falso desmaio. Olha pro lado, cobre a face com a revista " De fofoca ainda! Agora ferrou-se". Mas não. Ele se aproxima do ouvido dela e diz: "És uma gata, Ô! Posso tomar a cerveja com você e depois nóis sai pra fazer alguma?"

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Por favor, a conta?
Odiava ter que ser ela mesma.